No saguão do Aeroporto a cena se repetiu como tantas outras vezes.

01/05/2014 18:58

 

Romeu Paris - Nas horas vagas dos primeiros de maios.

 

O candidato surge no saguão do aeroporto com um sorriso amarelo nos lábios.

 

O pessoal da TV, do rádio e da imprensa escrita se aglomerava no pequeno espaço reservado para eles.

 

...me desculpem, com licença, estou com pressa, pessoal. Não tenho nada a declarar. Nada sei a respeito do que estão dizendo, acho isso tudo um grande erro, um oportunismo barato explorado pela oposição. Uma bobagem descomunal com o único propósito de denegrir a imagem de um político abnegado à honestidade. 

 

Após um breve silêncio de no máximo dois segundos, mil perguntas foram feitas ao mesmo tempo e todas mal ouvidas, desordenadamente.

 

Eu não sei de nada, já disse. Não entendo nada. Estou meio como uns e outros por ai que também, na hora H, não sabem de nada e nem nunca souberam. 

Na verdade eu estive viajando muito nesses últimos tempos e acabei perdendo a noção da realidade brasileira.

 

Mais perguntas, mais tumulto.

 

Do que vocês me acusam? Por que estão falando essas coisas de mim? Parem com isso! #pelamordedeus!

 

Eu assinei sim o que me deram pra assinar na ocasião. Eu não li tudo pois me foi dito que estava tudo certo. Nunca soube dos pormenores. Vão me dizer agora que vocês leem tudo que assinam? Aquelas letrinhas miúdas... Ah, tá bom!  Gesticulando com os dedos em riste.

 

Tumulto.

 

Não, não... claro que não. Você é que está dizendo isso. Eu nunca falei que estive lá. Não ponha palavras em minha boca, seu reporterzinho de gazeta de bairro de quenga.

 

Me desculpem, eu estou com muita pressa. Já disse: não tenho nada a declarar. Respeito vocês, respeito o trabalho da imprensa, pois respeito o estado democrático que aliás, aliás... erguendo os dois braços ...ajudei a consolidar em nosso país. Mas espero que da mesma forma o respeito retorne por parte de vocês.

 

Não adianta insistir, nada sei, nada sabia e nada jamais saberei, ainda mais sobre alguma coisa que se soubesse poderia me comprometer. 

 

Vocês estão loucos!

 

O exercício democrático é bom quando é praticado com mãos fortes, mas mãos com duas vias, uma que vai e outra que vem. 

 

No tumulto o candidato que é protegido por seguranças bem vestidos, alcança a portão de saída e entra no carro preto que o aguardava já de portas abertas.

 

Dá licença, dá licença, bom trabalho pra vocês, meu povo. Preciso ir, queria ficar, mas minha mãe está me chamando. 

 

Boa tarde!

 

Daqui uma semana ninguém vai se lembrar de mais nada. Vão estar metendo o pau em outras maracutaias.

 

Comentou o candidato em voz baixa com um dos assessores ao seu lado.